“10 anos sem estudar, 10 anos vagabundando por aí,
10 anos de maconha, 10 anos marginal.
Cagar é só o que dá vontade de fazer.
Cagar, porra! Mas é duro.
Só eu pra dizer o trabalho que me deu pra chegar até aqui.”
10 anos de maconha, 10 anos marginal.
Cagar é só o que dá vontade de fazer.
Cagar, porra! Mas é duro.
Só eu pra dizer o trabalho que me deu pra chegar até aqui.”
METEORANGO KID (1970) sugere um trash tupiniquim de heróis.
Não é, mas pode causar espanto, risos e repulsa falando de coisas um
pouco mais sérias. O movimento underground baiano no final dos anos 60
revelou muita gente interessante. André Luiz Oliveira foi um deles.
Formado pela faculdade de cinema da UFBA, André juntou atores do teatro
marginal, cinema de vanguarda e Novos Baianos para filmar um texto de
sua autoria sobre a revolta da juventude classe média.
No
centro de tudo, Lula, um jovem crucificado entre o dever da
inconformidade política e a moral da família burguesa. Perdido, opta
pela alienação como viés mais simples para levar a vida. Seu poder de
ser esculhambado e esculhambar é proporcional. O jovem como interseção
dos acontecimentos. Como no clássico de Andréa Tonacci, BLABLABLÁ (1968)
todos têm e não têm razão. Os discursos políticos são ora inócuos, ora
substanciais. E a idéia é mostrar o que a dúvida pode causar na cabeça
daquele jovem, cada vez mais sedento pela repulsa alheia.
Passeia
entre as melecas que tira enquanto azara meninas, a indiferença pelos
protestos políticos dos amigos e os baseados que queima. Lula delira
como se fosse um astro do cinema na pele de heróis como Tarzan e Batman.
Ao longo do filme, cruza ainda com outras figuras como o amigo que
profere as sábias palavras que abrem esse texto. O filme também nos
apresenta um personagem isolado, um inacreditável homem vampiro que
tenta, em vão, atacar pescoços de mocinhas indefesas.
Lula,
assim como André Luiz Oliveira, observa o mundo com um riso irônico,
sede de rebeldia e vontade de mandar todos tomarem… Rebeldes com causa e
sem porquês. Isso fica claro na seqüência chave onde Lula e dois amigos
enrolam e queimam um baseado. O desfecho é a tradução da ideologia
humana. A lei do mais forte. Aliás, depois de METEORANGO, fica fácil
saber onde Lírio Ferreira e Selton Mello se inspiraram para a “aula de
enrolar baseado” no excelente ARIDO MOVIE (2006).
Esteticamente,
METEORANGO KID bebe na fonte de Glauber (principalmente CANCER) e
Sganzerla (BANDIDO DA LUZ VERMELHA e HQ), flertando também com o
neo-realismo italiano e nouvelle vague. A origem Tropicália e a arte de
Helio Oiticica também são facilmente identificadas. No entanto, a
ousadia faz o filme parecer muito com os primeiros trabalhos de John
Waters, onde a prioridade é apresentar um freak show de figuras
repulsivas, aterradoras e surrealistas.
METEORANGO
KID entrou para a história como um dos principais filmes marginais do
cinema brasileiro e ganhou o prêmio do público no Festival de Brasília.
André Luiz Oliveira ainda fez alguns poucos trabalhos, entre eles o
genial e premiado LOUCO POR CINEMA (1994) que parece um CECIL B.
DEMENTED (John Waters) tupiniquim. O cineasta também realizou
recentemente dois filmes que não foram para circuito, são eles EM
VERDADE VOS DIGO e SAGRADO SEGREDO, ambos de 2005.
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