sábado, 30 de março de 2013

ROAD TO NOWHERE (2010)


“Abaixa a arma!”, grita o policial diante da janela onde o cineasta Mitchell Heaven aponta uma câmera para o lado de fora. No clímax de Caminho para o Nada, a câmera é a grande arma, com seu poder de registrar o momento, de imortalizar o tempo, de permitir a reprodução (artificial, sempre) de determinado acontecimento. Ali estamos na derrocada de Heaven tanto quanto em seu ápice criador, em que vida e arte se misturaram definitivamente e o que lhe resta é usar o equipamento como forma de olhar e ser olhado pelo mundo que se despedaça ao redor.

Caminho para o Nada é a volta de Monte Hellman à direção depois de 20 anos afastado do ofício. Trata-se de seu filme mais autorreferencial (as iniciais dos nomes do realizador e do personagem não são iguais por acaso), aquele no qual ele cria um alter ego que parece refletir seu próprio estar no mundo da arte. Hellman, criador mítico, autêntica lenda do cinema americano inventivo e sem concessão, incorpora em Heaven a moral que lhe move, a impetuosidade que o tornou tão reverenciado quanto amaldiçoado, a verve crítica e política de quem chega aos 80 anos e decide questionar o ofício que exerce e seu próprio papel dentro da engrenagem.



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